Descartes o racionalista do método e o relativista do gosto: implicações estéticas no pensamento cartesiano

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Isaú Ferreira Veloso Filho1

Prof. Substituto da Universidade Federal do Tocantins-UFT, mestre em Estética e filosofia da Arte pela Universidade Federal de Ouro Preto-UFOP e graduado em Filosofia pela Universidade Estadual de Montes Claros-Unimontes.
A proposta visa alargar as possibilidades de análises sobre o filósofo francês, pai da modernidade, René Descartes. Apresentando uma nova perspectiva, uma visão diferente da comumente defendida na história da filosofia, a saber: de cunho puramente racionalista. Nesses termos, intentamos aqui desenvolver não uma ruptura, mas uma ampliação na maneira de se interpretar o filósofo. Esta que além de apresentar a perspectiva racionalista, canônica na filosofia, busca exibir uma posição em certa maneira relativista.
O fio condutor que norteará nossa análise será a perspectiva estética, esta que perpassa, a partir da música, a transição do Descartes matemático e cientista para o Descartes filósofo. O itinerário busca ilustrar a mudança de um pensador racionalista preocupado com o uso da matemática, matéria pura da razão como meio de conhecer com caráter de verdade a realidade, para o filósofo. Este que admite existirem questões outras na apreensão sobre o belo ou agradável, que por sua vez, não podem ser definidas de maneira universal pela matemática.
Para que nossa proposta seja contemplada a primeira parte do conteúdo apresentará o Descartes racionalista, a partir, primordialmente, dos comentadores Geneviève Rodis-Lewis e Franklin Leopoldo. Em sequência discutiremos a obra fundamental do autor: o Discurso do Método. Especificadamente na segunda parte apresentaremos como o filósofo francês demonstra o caminho para se chegar ao conhecimento verdadeiro acerca dos objetos, ou seja, define as regras do seu método. Em sequência exibiremos a aplicação deste na metafísica, quarta parte do Discurso, trazendo a justificativa que faltava para confirmar a verdade do mundo empírico pela matemática. Demonstrando como a verdade do mundo externo pode ser compreendida a partir da razão com o uso de um método, este que tem seu caráter de certeza assegurado pelo argumento do Deus bom e veraz.
Findada está etapa vamos a segunda parte do conteúdo, onde está o cerne da nossa proposta: a perspectiva estética de Descartes. Assim, a partir da primeira obra cartesiana- Compendio de música-1618- demonstraremos a tentativa do filósofo em relacionar certas consonâncias musicais com afetos de maneira universal com base na razão matemática. Em outros termos, vamos esmiuçar o Compendio mostrando como ele se aproxima de uma estética racionalista, isto é, associando o belo e o agradável à aquilo que representa a proporção e harmonia da matemática sendo quista universalmente. Em outros termos, como o filósofo se insere na corrente estética da Teoria dos Afetos.
Como contraposição ao ponto apresentado acima vamos a partir das Cartas trocadas entre Descartes e o Pe. Mersenne nos anos de 1629 a 1631, traduzidas em minha dissertação, mostrar como essa “matematização” dos afetos se mostra infrutífera para o pensador. Em outros termos, como o filósofo francês se mostra bastante relativista a maneira como o belo e o agradável surgem nos indivíduos. Levantando questões como a experiência empírica e o gosto de cada sujeito frente a obra apreciada, em última instância, demonstrando uma ruptura com a perspectiva racionalista. Sobretudo no que diz respeito à relação entre a música e o afeto criado no expectador.
Referências.
DESCARTES, René. Compendio de Música. Coleccion Metropolis. Madrid: Tecnos, 2001. Tradução: Primitiva Flores e Carmen Gallardo.
______. Discurso do método. Coleção Os Pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1973, 1a Ed. Tradução: J. Guinsburg e Bento Prado Júnior.
______. Obras escogidas. Buenos Aires: Charcas, 1980, 2a Ed. Traducción: Ezequiel de Olaso y Tomás Zwank.
______. The Philosophical Writings of Descartes, vol. III: The Correspondence. Translation: John Cottingham, Robert Stoothoff, Dugald Murdoch, and Anthony Kenny. Cambridge: CUP, 1991.
Dill, Charles. “Music, Beauty and the Paradox of Rationalism.” In: French Musical Thought, 1600-1800, edited by Georgia Cowart, 197-210. Ann Arbor, MI: UMI Research Press, 1989.
FUBINI, Enrico. Estética da Música. Lisboa: Edições 70, 2008. Tradução: Sandra Escobar.
RODIS-LEWIS, Geneviève. Descartes e o racionalismo. Colecção substância. Porto: RÉS Editora, 1979. Tradução: Jorge de Oliveira Baptista.

VELOSO FILHO, I F. A estética cartesiana entre a Teoria dos Afetos e o Gosto subjetivo. 2015, 103f. Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal de Ouro Preto. Instituto de Filosofia, Artes e Cultura. Filosofia. Estética e Filosofia da Arte.